Beleza Hiper-real
- Barbara Passeri
- 20 de set. de 2023
- 4 min de leitura
O tema a Beleza Hiper-real, fez parte da minha monografia na faculdade de Propaganda. Parte dela foi publicada na revista Vida Estética. Como a monografia foi escrita em 2011, busco - sempre que possível - atualizar o texto, A hiper-realidade é um conceito da filosofia, que tem seus estudos voltados para a consciência e a realidade. Vive-se totalmente envolvido por imagens, que representam algo e que transmitem significados. Os indivíduos, os objetos, o que faz parte do convívio, pode ser reconhecido por algum símbolo que passa mensagem, conteúdo e valores. Dica de filme excelente sobre hiper-realidade > The Truman Show Diante de tantas mensagens as quais se está exposto, pode-se perder a capacidade de distinguir o real do imaginário, fantasioso. Muitas formas podem parecer reais e facilmente alcançáveis, entretanto são fantasiosas e impossíveis de serem seguidas realmente. A partir do momento em que se multiplicam os produtos e imagens, seus significados também aumentam. Até que ponto é possível encontrar o "real", o que existe de fato? Tratando-se de beleza, ao se olhar uma pessoa em uma capa de revista ou no Instagram, pode o (a) mesmo (a) ter conquistado uma beleza, corpo perfeito, através de programas editores de imagem e não por um esforço físico, dietas e cirurgia plástica. Com ao avanço da tecnologia digital, os veículos midiáticos passaram a utilizar programas editores para facilmente manipular imagens, criando um modelo de beleza inatingível, hiper-real. Sem marcas de expressão; corpo, rosto e cabelos "perfeitos"; pele sem celulite. Esta imagem inatingível de tanto ser veiculada, pode se tornar "mais real do que a própria realidade", ou seja, hiper-real. A beleza hiper-real possui diversos exemplos espalhados pela internet, que possibilitam notar as modificações que vem sendo feitas em fotografias. Estas muitas vezes induzem a compra de produtos, sacrifícios, cirurgias que prometem atingir uma imagem perfeita, que na verdade foi conseguida pelo "Photoshop" e inúmeros filtros. A valorização da aparência é intensificada pela mídia em geral e pelo sistema publicitário. Vale ressaltar que o mercado de beleza cresce e o Brasil está entre os maiores consumidores de cosméticos do mundo. Sendo assim, os investimentos na área tendem a crescer e consequentemente uma ampliação na propaganda e na exibição de "belos" corpos. Modelos, atrizes e blogueiras famosas, que estão presentes na mídia, representam marcas, vivem em um ambiente imaginário e real e são referências de beleza. Com a facilidade que hoje se manipula uma imagem, mulheres estão sendo "criadas" digitalmente, completamente retocadas. Não é possível ver essas mulheres na "realidade", porque elas não existem de fato. Está se criando uma beleza, que nem mesmo quem a representa consegue atingi-la. Vale ressaltar que a punição por não conseguir atingir o corpo perfeito são as consequências de uma beleza inatingível, ou seja, a prática obsessiva de regimes de emagrecimento, exagero em atividade física, transtornos alimentares, a compra exacerbada de produtos de beleza, a realização de plásticas - em que se deseja ser como alguém da mídia. São exemplos de ações punitivas contra o corpo imperfeito, o corpo real. Tratando-se de transtornos alimentares, a anorexia é mais recorrente em jovens de 12 a 18 anos, enquanto a bulimia é mais comum entre os 16 e 25 anos. Pesquisas recentes apontam que a preocupação com o corpo também atinge os homens - quase 10% do total de casos são do sexo masculino. A chamada doença de dismorfia corporal é um distúrbio que vem sendo estudado na última década e está ligado a obsessão pela beleza. Quem sofre de TDC, ou seja, transtorno dismórfico corporal, não possui uma percepção adequada de sua imagem. A pessoa passa a notar defeitos que não existem ou a aumentar pequenas "imperfeições". O doente coloca esses "defeitos" como centro de sua vida e tenta superá-los. Passar a vida buscando uma beleza impossível, não enxergando a própria beleza ou ainda associando a mesma unicamente à utilização de produtos e não à algo natural, pode desencadear uma vida de frustrações e uma visão negativa de si. Deve-se notar, que o que é considerado belo hoje, pode não ser mais amanhã. Pode-se tentar através da educação mostrar a beleza da diversidade, mostrar que a imagem, foto, não se limita ao retrato, portanto a mesma caminha por um meio que pode ser extremamente fantasioso, imaginário. E ainda, mostrar já na infância que cada um possui uma beleza única e que devem respeitar as diferenças. Pela internet é possível ver uma mudança, blogueiras, até mesmo atrizes mostrando mais sua beleza "real". Algumas empresas procurando diversificar suas modelos, mas temos ainda um longo caminho a percorrer. Três de cada quatro brasileiros, cerca de 76%, afirmam que as propagandas deveriam representar melhor a diversidade da população brasileira. Um estudo da Heads Propaganda observou materiais publicitários que foram exibidos em canais abertos e pagos de televisão e posts de marcas no Facebook. O resultado apontou que, de maneira geral, a publicidade reforça estereótipos e não representa a diversidade de raça e gênero da sociedade brasileira. Não se é contra a toda oferta da indústria da beleza, as cirurgias plásticas, que prometem fazer com que as pessoas sejam cada vez mais "belas", mas, além disso, é importante se sentir belo (a). E, isto influencia no comportamento, nas atitudes, na autoestima. Não se é contra também a propaganda, mas alerta-se que ela é responsável pela transmissão de mensagens entre a marca e o consumidor. Sendo assim, não se deve esquecer do código de ética e de satisfazer os desejos dos consumidores de forma responsável. A "culpa" de tantas consequências da busca por uma beleza inatingível não pode ser direcionada a um único fator, mas sim a junção de todo um comportamento e relações baseadas em imagem. Adaptar-se a realidade, a viver em um ambiente fantasioso e real é um desafio. Precisa-se educar e avaliar o que traz benefícios às pessoas, não apenas físicos, mas psicológicos. Sabe-se que a aparência é extremamente relevante, é a primeira comunicação com o outro, mas é importante, lembrar do conteúdo, das ideias, dos valores. É importante perceber que "cada ser humano é uma estrela viva e única no teatro da existência" (Augusto Cury) Por isso, ao consumir produtos e serviços, ao entrar no Instagram, ao ver uma capa de revista é importante lembrar que cada um tem uma beleza única e que ao mesmo tempo faz-se parte de uma diversidade que é bela. (Referências - BAUDRILLARD, Jean. / CURY, Augusto / MENDONÇA, Martha / MORENO, Raquel, Super Abril, Meio e Mensagem)





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